O nevoeiro...
Sol e azul e, depois, névoa. Às vezes começa em agosto, outras em setembro. Uma barra ao longe anuncia-a, uma barra que cresce em fumarada sobre a terra, ou que se dispersa correndo para o sul, em labaredas sobre o mar esverdeado.
Há outras névoas no verão que se descerram como cortinas ficando o panorama límpido como uma aguarela acabada de pintar. Outras têm léguas de extensão e levam dias a passar. E o mar exala um cheiro mais vivo quando o nevoeiro parece dissolver-se, para logo voltar mais denso e compacto.
Às vezes, vê-se entre a neblina um ponto da costa cheio de luz, um rasgão no mar, uma única pedra iluminada entre o céu infinito e o mar.
As névoas anunciam o inverno. Começam a vir os nevoeiros compactos, que se metem pelas narinas e cheiram a mar, há-os que têm léguas de espessura e levam dias a desfazer-se, cortes desordenadas de fantasmas enchendo todo o horizonte.
O sino tange. Não se vê palmo adiante do nariz. Lá fora os barcos, como cegos, só se guiam pelo som. O mar é um misterioso fantasma que os envolve. E, de vez em quando, o sino chama, chama pelos homens perdidos na névoa espessa que leva dias a passar.
João Vieira (adapt.)
(Autorizo a publicação e uso do texto, com a autoria)
(Autorizo a publicação e uso do texto, com a autoria)
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