Uma casa vazia...

Nesse dia viu-se sozinha em casa e, bruscamente, sentiu-se invadida por um tédio imenso, depois por uma forte tristeza e, por último, por uma onda alta de desespero que acabou por sufocá-la numa crise de soluços.

Pensou no que foram algumas das horas mais intensas da sua vida frustrada, do ocaso da sua mocidade. Três delas evocavam a sua saudade nesse momento de solidão e de abandono em que a essência material das coisas se adelgaça, a verdade se subtiliza e a realidade avança ao seu encontro, mais alta e mais profunda.

Três horas, três momentos decisivos no seu destino de mulher que à sua alma haviam trazido as vibrações máximas do orgulho, da ternura e do desespero: a glória, o amor e a dor.

A glória fora para ela a nuvem que envolvera o seu sonho de artista, a sua ambição de lutadora; O amor viera ao seu encontro, quando a sua mocidade caminhava já para o declínio e começou a estiolar-se, murchou como planta a que faltava o terreno apropriado; A dor conhecera-a quando a morte se ergueu no seu caminho roubando-lhe o melhor do seu coração, quebrando os mais sólidos esteios que a prendiam ao mundo.

Vencida pela tristeza das coisas, estendeu os braços em busca de algo que lhe fugia, como que procurando amparo em meio do caminho pedregoso, no momento em que a vida só já guardava a lembrança do mistério infinito, a infinita tristeza de uma casa vazia…

João Vieira

(Autorizo a publicação e uso do texto, com a autoria)

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