O arrefecer das recordações
É preciso não deixar arrefecer as recordações, porque às vezes o tempo vai-lhes diluindo os traços, vai modificando-as e, sobretudo, vai-nos modificando a nós. Tenho notado isso em todos os que vejo envelhecer à volta de mim: a velhice é principalmente o arrefecimento de todos os sentimentos e de todas as ideias, o apagar de todos os sentimentos e de todas as ilusões.
Os velhos que se dedicam extremosamente aos seus, que conservam intacto o seu credo e os seus ideais, que observam e comentam, aceitando ou não, a evolução dos tempos, só relativamente são velhos porque os anima o espírito da mocidade.
Quando encontramos aqueles, junto de quem decorreram os primeiros anos da nossa existência, é inevitável o contínuo recordar. Chegamos até a esquecer os factos mais importantes da nossa vida presente, desviando sem cessar o pensamento para os dias tristes que não desejamos ver regressar.
João Vieira
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