O caminho das andorinhas

Durante quase seis meses foram as inquilinas adoradas e abençoadas dos beirais, recantos de janelas e chaminés. Ali criaram os filhos e ali voltarão daqui a seis meses, quando a Primavera voltar a sorrir.

Durante anos seguidos voltam a nidificar no mesmo abrigo, transmitindo de pais a filhos por direito de sucessão e hereditariedade, leis de um código que não está escrito, mas que nem por isso é menos respeitado nem menos admirável.

Que curiosa a sua partida e que belo exemplo de solidariedade para o ser humano. Sem mapas, sem bússola, mas bem seguras da sua rota, guiadas pelo admirável instinto de orientação, cortam o espaço, em demanda do norte de África, das águas azuis do Mediterrânio.

Muitas delas ficarão pelo caminho, mortas por falta de alimento ou à míngua de descanso. A viagem é penosa, dura muitas horas, em busca do sol e da luz que são para elas uma condição de vida.

Quantas cairão durante a travessia? Que importa morrer por um sonho, quando se não se pode morrer sem ele?

João Vieira





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