Os nossos tesouros

As reminiscências do coração são aquelas que se apagam mais depressa, como uma bruma ligeira que se dissipa à medida que o dia avança, ou as que ficam indeléveis em nós, como vestígios serenos ou brutais de uma constante gota de água deixada sobre a pedra.

Cada qual tem a sua maneira especial, de se recordar. Mas lembremo-nos que devemos ser donos dessa nossa faculdade como de todas as outras que possuímos. Os nossos amores, amizades, ódios e rancores vão passando por nós e leva-nos a pensar no que devemos conservar deles.

Guardemos intacto tudo quanto foi e é belo, tudo quanto sentimos de entusiasmo, de grande, de doce, de puro. São essas as razões que nos fazem guardar, como um tesouro que ninguém nos poderá roubar, um capital do qual poderemos tirar juros, recordações luminosas, reconfortantes, muitas vezes mesmo, como um prémio de consolação.

João Vieira 


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