Solidão
Ris-te do que te digo, mas quando chegar a tua hora, verás a falta que te vai fazer um apoio e o muito que precisamos de carinho para ir vivendo, à medida que os anos passam. Alguém que esteja ao teu lado, que te pegue na mão nos teus últimos instantes (que mais podemos fazer a um moribundo?). E quando os ouves falar assim, angustias-te, imaginas-te sem conseguires levantar-te da cama, agarrado às costas das cadeiras para te moveres dentro de casa, apoiando-te às paredes para alcançares a casa de banho, ensopado num rançoso suor senil; ou morrendo asfixiado, engasgado com qualquer coisa, com um pedaço de cartilagem de vaca mal mastigado, um simples gole de água, uma migalha de pão, um desses comprimidos que tomas para a hipertensão, para facilitar o fluxo sanguíneo, para o colesterol, para a hiperglicemia; vês-te afogado na tua própria saliva: tosses, sufocas, sem ninguém por perto que te dê uma palmada nas costas, ou te meta os dedos na boca para te ajudar a expelir o que tens atravessado na garganta, alguém que chame o 112 ou te meta num carro e te leve a toda a velocidade para o hospital ou ao centro de saúde mais próximo.
A solidão, Liliana. As pessoas acham que é o pior. Não sei que te diga. É possível que o seja, porque, ao-fim-e-ao-cabo, a solidão — como a nudez, a desnutrição, o calor ou o frio — é só uma manifestação do verdadeiro mal, um mal esmagador, assombroso, que qualquer pessoa com dois dedos de testa deve evitar por todos os meios, e que não é senão a pobreza, sim, Liliana, é esse o único verdadeiro mal desde que o mundo é mundo, como muito bem sabes.
(Rafael Chirbes, escritor espanhol)
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