Dueto com Bocage



Já por bárbaros climas entranhado

( Manuel M. Barbosa du Bocage )


Já por bárbaros climas entranhado,
Já por mares inóspitos vagante,
Vítima triste da fortuna errante,
Té dos mais desprezíveis desprezado:

Da fagueira esperança abandonado,
Lassas as forças, pálido o semblente,
Sinto rasgar meu peito a cada instante
A mágoa de morrer expatriado.

Mas, ah! quem bem maior, se contra a sorte
Lá do sepulcro no sagrado hospício
Refúgio me promete a amiga Morte!

Vem, pois, ó nume aos míseros propício,
Vem livrar-me da mão pesada e forte,
Que de rastos me leva ao precipício!

  
  
Eu, que da pátria um dia me ausentei
( Eugénio de Sá )


Eu, que da pátria um dia me ausentei
Buscando encantos noutros horizontes,
Bebi, enfeitiçado, doutras fontes
Esquecido das que outrora tanto amei.

Abandonado dos étereos sonhos
Que alardeiam promessas sussurantes,
Não mais serei o homem que fui antes;
Crédulo à sorte, e em tempos risonhos.

Não sei se à sepultura isto me leva
Porque aspiro à certeza capital
Cujo sossego, de o pensar m'enleva;

Mas se assim for, que me veja afinal
Sob o meu céu, quando a vida se encerra
Balbuciando o nome: Portugal !
 
( Escrito no Brasil em 2008 )








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