Os homens da bata branca
Sempre a eterna luta, a guerra implacável contra a morte – que a morte é o desconhecido e o homem tem o horror do que fica para além dos limites do que as possibilidades do Conhecimento lhe concedem. Suspende-se a olhar ansiosamente o horizonte longínquo e distante, do que se perde na bruma espessa do inatingível, agarrado como um náufrago perdido, mas sempre confiante, à inconsistente fragilidade de uma Ciência que pretende ser infalível e imutável.
E o olhar penetra sempre e cada vez mais na bruma paradoxalmente imponderável e consistente, na opacidade irreal dos valores metafísicos. A ciência cirúrgica alargou mesmo a técnica moderna com novas concepções.
Novos horizontes alargam a investigação médico-cirúrgica. A guerra foi uma fonte inesgotável de casos que a ciência se esforçou para solucionar. A luta prossegue mais feroz, a luta que pretende vencer a morte, a morte que não deixa vencer-se. Mas o homem, na figura do cirurgião, não desiste. Desistir significa abdicar e abdicar é morrer. O homem da bata branca armou-se com a espada da Ciência e esgrime com fantásticos inimigos.
É toda a sede de conquista e de imortalidade reduzida à lâmina luminosa e cortante de uma espada, uma espada que é uma retorta ou um microscópio, uma alavanca ou um bisturi.
João Vieira (adapt.)
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