O sapateiro
Em louvor à dignidade dos artesãos
A pobreza os gerou,
eles são povo, e o povo conta com eles.
Neste oficina esquecida
Onde a graxa se mistura
Ao suor do artesão
Não se sabe onde há mais vida
Se na sola pura e dura
Se naquele coração
O Sapateiro
Bate a malhana na sola
Que é só meia a remendar
A manhã escorre pla fresta
E geme ao esforço a consola
Porque há muito a martelar
Na oficina modesta
Entra em função a sovela
Que o couro grosseiro fura
Para o linhol repassar
Que é assim que vai cozê-la
A tal sola pura e dura
Que é só meia a remendar
Neste reduto de pobre
Onde os pobres se recorrem
Trabalha alguém duramente
Calado, surdo, mas nobre
Bastas mágoas o consomem
Porque é humano, e é gente!
Eugénio de Sá
Sintra, 13.Março.2018
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