O DRAMA DO ABANDONO AMOROSO


 
 
 
  
   O abandono amoroso
    "Nunca dobre os joelhos sob o peso de um coração partido"
    Sam Shepard
   
    Este tipo de abandono é um sentimento gerado pelo choque do corte, mais ou menos abrupto, de uma relação
    que se antevia duradoura.
    Depois da perda de um familiar muito querido,  este é, provavelmente, o sentimento que mais nos afecta,  o    
    trauma que mais pode influenciar negativamente a nossa vida.
    No caso da rejeição amorosa, não é por acaso que o tema serviu e continua a servir de inspiração a muitos  
    compositores, escritores e poetas, ao logo da história e até nossos dias.   
    O abandono sempre tem uma influência decisiva na baixa auto-estima, assim como na projecção de síndromes  
    da fobia social, dos medos, etc. -  nos traços caracteriais da personalidade de quem o sofre.
    Euénio de Sá

 

 


Somos respeitados pelos silêncios que sabemos guardar,

não pelos gritos que soltamos.
E. Sá
  

E, se isso ainda for possível…


Que esquecido fique o recordar
das palavras que foram cruciais
Pra maltratando, nos desassossegar.

Se não, que Deus se apiede de nós.




No silêncio da noite

É no silêncio da noite que a gente
Sente mais forte bater o coração
Torna-se, então, latente a nostalgia
Num'alma triste, carente de afeição
Lembrada de quem disse que nos queria.

É no silêncio da noite que a gente
Sente maior a dor do abandono
Tornada chama que cá dentro queima
Num corpo que não tem mais dono
Plo abandono de quem não o reclama.

É no silêncio da noite que a gente
 Solta os gemidos surdos à razão
E o corpo revolta-se, irrequieto, quente;
Aos poucos vai perdendo a exaltação.

É no silêncio da noite que a gente
Então desiste d'alguma empolgação
E adormecemos num sono descontente
Que nos recusa o sonho ao coração.



Portugal
 2006


 



O silêncio dos ofendidos

  
Viver acompanhado, e todavia
Sentir-se só na casa que é de dois
É comum nestes tempos, e depois
De tristeza se vive o dia a dia

E este sentimento de impotência
Vai macerando a alma, e assim
Cada um se pergunta; que há em mim
Que mais não sou que uma transparência?

E eis que chega a vez de responder
Com o silêncio que há nos ofendidos
Deixando ao outro vez de se doer

E o que ao silêncio não quis dar ouvidos
Um dia escutará a porta, que ao bater
Com o fragor, abafa alguns gemidos!


Bogotá
 2008


 



( Epístolas )

Abandono 

Mal me expus à ventura, logo a treva
Voltou a me assombrar, implacável
E fez que a pouca fé em mim proscreva.

Oh faustos da fortuna, quão instável
É o teu rasto, e magro o vão sustento
Que tudo torna em cousa deplorável,

Já que Eros veio nas asas do vento
Turbilhonar em mim um fado antigo
Expondo-me ao vazio e ao lamento.

Febricitante sou, triste exaurido
Porque quem ama não sabe odiar
Mesmo se desprezado e traído.

Tu que induziste em mim o verbo amar
E da minh'alma metade te apossaste
Toma da ambrósia o dom de adocicar.



Portugal
 2017
    
 



Vincula-me o amor pela poesia e pelo apaixonante estudo
dos sentimentos humanos, nas suas múltiplas vertentes.

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