RECADO A UMA ALMA




   
RECADO A UMA ALMA
Eugénio de Sá



Ignora as mágoas em que te emaranhas 
Que não as sintas a apertar-te o peito
Sei dessa dor que te mói as entranhas
Sei da tua revolta, sinto-a nesse jeito
Que tens pra libertar forças tamanhas.


Dou-te razão, cansaste dessa andança
Mas o sonho serena os teus tormentos
Trazendo à alma alvores de esperança
Criando nela tais ânsias e alentos
Que a vida volta a ganhar confiança.

 Renova em ti vontades e fulgores 
E voltarás à forma jovial
Que te esvazia d'iras e clamores.


E mesmo sem destino ou rumo certo 
 Busca no instinto a justa orientação
Faz como o capitão, que em mar aberto
Solta a mezena aos ventos de feição 
E logo aproa a escuna, com acerto.

 


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