ADUBAR OS SONHOS

A realização é a morte do sonho, um adubo para surgimento de novos sonhos. Quando um desejo é realizado há uma transferência para outros desejos que surgem. A plenitude é apenas possibilidade. A plenitude pode se tornar uma estagnação.

Afinal, a vida é uma permanente construção, é resultante de uma insatisfação que acompanha o ser. Assim é, também, a construção da casa. Enquanto habitada ela retém um querer mais de construir.

Seus compartimentos, dos menores aos maiores, estão sempre precisando de reformas, mesmo estando repletos de completudes. Há sempre um vazio qualquer a ser preenchido. E se esse vazio está fechado, aos poucos vai se esvaziando de vazios.

É como um cofre de que se perdeu a chave. Ele vai se enchendo à proporção que o tempo passa. Muitas preciosidades são postas no seu interior, tantas coisas ali estão, que não caberiam se estivesse aberto.

É por isso que se pode dizer que um continente fechado suporta mais conteúdos do que se aberto fosse. Um armário lacrado suporta um universo de possibilidades que se evaporam ao ser devassado pelo nosso olhar. Nosso olhar é um devastador de paisagens. Daí haver pessoas que se negam a ver o cheio para não esvaziá-lo.

Batista de Lima, jornalista e cronista brasileiro


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