MÃE, ONDES ESTÁS? EU QUERIA TANTO AMAR-TE / AMOR DE MÃE



Mãe, onde estás?
- Eu queria tanto amar-te…

( Eugénio de Sá )


Mãe, eu queria tanto amar-te…
Sou tal qual solitária avezinha
Que incapaz de voar, sonha sozinha
Como seria bom ver-te e abraçar-te.

Mas não quiseste dar-me esse carinho
E deitares-me a teu lado ternamente
E assim fiquei menino, mas diferente
Dos demais que desfrutam tal destino.

Não vinguei, minha mãe, não o quiseste
E onde estou me pergunto se o fizeste
Porque alguma desgraça te abateu;

Que te vergou a vontade e a razão
E que te fez parar um coração
Que batia em uníssono c'o teu !

Sintra - Portugal
15.Agosto.2014

 




  AMOR DE MÃE

   O que vos vou contar contou-mo a minha avó paterna, era eu    então um menino, e ao que lembro, dizia ela que já a sua mãe lha havia contado. Estamos portanto a falar de uma ficção(?) anterior a meados do século XIX.
  A história passa-se num vilarejo, algures no Portugal profundo, e fala de uma pobre mulher viúva que vivia com o seu único filho; um jovem que havia caído na delinquência e já cumprira pena por assaltos à mão armada.

  Saído da cadeia, logo a extremosa mãe procurou recebê-lo e cuidá-lo o que melhor que podia. Apesar da sua escassez de meios, ela conseguiu pôr na mesa uma refeição com o prato preferido pelo filho, e logo que o rapaz franqueou a ombreira da porta, a senhora correu a abraçá-lo com a alegria que só uma mãe carinhosa sabe sentir e mostrar pelo seu filho.
 
  A ausência deste - motivada embora pelas piores razões, que a justiça julgara e condenara - produzira nela um estado de grande tristeza que radicava na saudade prolongada que sentira nesses anos da sua ausência. Afinal, ela vivia por e para aquele único filho, já que a vida não lhe proporcionava há muitos anos nada mais que a motivasse a vivê-la.

  Tempo passou, e entretanto o rapaz, que adquirira na prisão o vício da bebida, não procurava trabalho e era raro dia que não aparecia em casa já tarde e completamente embriagado. O seu mau carácter mais se evidenciava então, e não tardou que começasse a tratar mal a sua progenitora. Dos palavrões passou aos maus tratos físicos, que a pobre mulher sofria calada, sem se atrever sequer a repreendê-lo.

  Um dia, já esgotada a paciência do dono da tasca onde ele diariamente se embriagava, o homem fecho-lhe definitivamente o crédito e recusou servir-lhe mais bebida fiada. Desesperado, o rapaz foi a casa exigir dinheiro à mãe. Esta aos seus berros, confessou-te tristemente que não tinha um tostão para lhe dar. Foi o suficiente para que, louco de raiva, o rapaz a matasse à pancada.
  Depois, com medo de ser acusado de assassínio e voltar para a prisão, pegou num cutelo e desmembrou-a, metendo os pedaços da mãe num saco que pôs costas e levou com ele para longe, certamente com o objectivo de esconder o cadáver, eliminando assim as provas do seu hediondo crime.

  Algum caminho andado, tropeçou, e quase caiu arrastado pelo peso que carregava. Ouviu-se então uma voz vinda do saco, que docemente lhe perguntou: " magoaste-te, meu filho? "

E mais a minha avó não me contou!

Eugénio de Sá




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