O SEGREDO DAS MULHERES

Como os homens andam sempre atrasados em relação às mulheres (porque só pensam numa coisa de cada vez e acham que falar acerca das coisas é pior do que fazê-las), quem sabe se não é estudando o comportamento feminino de hoje que poderemos vislumbrar o nosso macaquismo masculino de amanhã?

As mulheres de hoje sabem quem lhes pode fazer mal: são as outras mulheres. Os homens, por muito amados e queridos, nem sequer são considerados competidores. São como são, têm a inteligência e o material que têm - e que Deus os abençoe por ser assim, como os pêssegos-rosa e os arcos-íris e todos os outros fenómenos naturais que são difíceis de prever e de controlar.


O segredo das mulheres, que nenhum homem pode perceber, a não ser que seja amado por alguma que se sinta suficientemente amada por um para lhe contar mais do que o suficiente para ele continuar a existir tal como é (que mais não se lhe pede) é: os homens não entram na equação. É tudo uma questão entre elas.

Elas são espertas. É por isso que morrem de medo umas das outras. Conhecem o perigo e sabem quem pode emperigá-las. São as outras mulheres. É por isso que dizem mal umas das outras, mesmo quando gostam. O que é impressionante não é irem contra o coração, custando-lhes maldizer uma mulher que gostariam de abençoar. É respeitarem-se tanto como adversárias que estão dispostas a mentir para ter uma hipótese - por muito injusta e maldita - de ganhar.

É difícil um homem perceber isto, por andarmos muito enganados e sermos naturalmente estúpidos. O ciúme e a inveja das mulheres, por muito que nos custe, não nos diz respeito. Nós somos os objetos mas elas é que são o leilão. Arrematar é uma arte delas; nós, por muito lindos e preciosos, somos os arrematados.

As mulheres de hoje têm de dizer mal umas das outras porque foram essas as regras que estabeleceram. Enquanto um homem é bruto de mais para dizer mal de um homem de quem gosta (o contrário, que é dizer bem do que não se gosta, é fácil e comum a toda a Humanidade), a mulher é suficientemente flexível e sensível para dizer mal de uma mulher de quem gosta; ao mesmo tempo que lhe custa (sim) e envergonha (nunca) dizer aquelas palavras.
  
Aquilo que eu não percebo (entre todas de que falei sem conseguir percebê-las) é porque é que as mulheres que hoje têm 80 anos se elogiavam umas às outras com o mesmo à-vontade (e, se calhar, frieza) com que as mulheres mais novas cortam nas casacas (como se as mulheres tivessem tal coisa) umas das outras.


Parece-me, como humilde estudante, que a razão é a mesma: as mulheres têm medo umas das outras. Respeitam-se. Invejam-se. Enciumam-se. Gostem ou não gostem.

O medo, o respeito, a inveja e o ciúme são independentes do afeto. É neste aspeto que nos falta, a nós, homens, o aperfeiçoamento genético, de Adão para Eva, que nos permita reter o melhor e o pior dos dois mundos. Há o mundo do que se faz e diz. E há o mundo do que se sente e acredita.

Nós temos de escolher entre os dois, a cada momento. Elas não. Elas têm o triunfo e o castigo de terem tudo ao mesmo tempo.

Incluindo nós.


Miguel Esteves Cardoso, jornalista e cronista português


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