TEMOS FALTA DE IMENSIDÕES

O nosso mundo está tão cheio de significados que não damos mais conta de decifrá-los. Mesmo estando entre quatro paredes, não notamos pequenas coisas. O preenchimento de todos os espaços nos coloca em um vazio que só grandes catástrofes chamam a nossa atenção. Esses espaços que nos fecham, também enclausuram os nossos sonhos. Temos carência de imensidões. Há quase sempre uma parede à nossa frente.


O nosso horizonte está a um palmo do nariz, e isso não é bom. Há uma necessidade de alargarmos os nossos espaços para preenchê-los com os nossos sonhos. Antigamente eram serras, estrelas e nuvens que limitavam os sonhos. Hoje são muros, telas e portas que nos esvaziam de imensidões.


Precisamos, finalmente, recuperar vazios para construirmos latifúndios mentais, em que os sonhos caminhem em botas de sete léguas e replantem na terra devastada a amplidão de que necessitamos. A velocidade quanto maior mais ofusca a paisagem.


Nossos vazios mentais enchem-se muito mais na lentidão do que nesse disparar contínuo em que nos envolvemos. Daí que na dialética do cheio e do vazio, o povoamento da solidão tem-se tornado uma transmutação do que acumulamos quando o mundo era nosso.


Diante de tantos apelos que o cootidiano nos incute, precisamos de muito senso de escolha para não sermos tragados por um mundo repleto de apelos. Precisamos sempre de um retorno ao mundo da nossa infância, à infância do nosso mundo e das nossas coisas.


Batista de Lima, jornalista brasileiro


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