A MORTE É UMA PIADA
Morrer é ridículo. Você combinou jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos para a semana que vem, precisa autenticar um documento no cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pelo meio, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente? (…)
Que coisa macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer. Não faz exames médicos, fuma dois maços de tabaco por dia, bebe de tudo, gosta de costeletas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã…. Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito. Isso é para ser levado a sério? Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rareia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas.
Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo, antes de viver até a felicidade? Não se faz. Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. Só que esta não tem graça.
Martha Medeiros (adapt.)
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